Perder a motivação por atividades que antes despertavam o seu interesse. Ficar com a sensação de que não se reconhece mais. Sentir dificuldade em controlar algumas emoções. Se você já sentiu algum desses sintomas, é provável que as exigências domercado de trabalho o estejam sobrecarregando. Essa é uma realidade comum para muitos profissionais, que precisam lidar com jornadas exaustivas, entregas cada vez mais rápidas e metas bastante rigorosas.
Um levantamento conduzido por Paul Ferreira, vice-diretor do Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da Fundação Getúlio Vargas, mostrou que 43% dos 572 entrevistados relatam estar com sobrecarga de trabalho – 50% deles trabalham de forma híbrida, 28% estão de forma remota e 22% estão de forma presencial. “A gente percebe que a saúde mental está ficando cada vez pior”, adverte Paul.
O estudo revelou que pressão por resultados é o motivo com mais efeito negativo na saúde mental dos trabalhadores, seguido do custo de estar disponível o tempo todo. Dessa forma, saber como lidar com as exigências do mercado de trabalho sem abrir mão do bem estar, que já era uma tarefa complicada antes da pandemia, tornou-se indispensável.
RECONHEÇA OS SINAIS
Reconhecer os alertas do nosso corpo é o primeiro passo. Especialistas avisam que alguns sinais físicos, como diminuição da imunidade, aumento ou diminuição do apetite e dores musculares, podem ser pontos de atenção. “Qualquer mudança brusca é um sinal para investigar o que está acontecendo”, avisa Clarissa Freitas, psicóloga e coordenadora do Núcleo de Estudos em Psicologia Positiva Organizacional.
É importante ficar atento às dificuldades de controle emocional, como uma crise de choro. “Não que isso não possa acontecer eventualmente, mas às vezes a pessoa tem uma reação exagerada para uma situação em que não cabe tal reação”, aponta Clarissa. Além disso, a perda de motivação por atividades antes interessantes também pode ser um sinal.
Às vezes, os sinais são mais difíceis de serem percebidos, como no caso do burnout, que começa com uma dedicação intensa – na qual o trabalhador vê sentido no que está fazendo -, mas acaba desencadeando um esgotamento mental. “Por qualquer que seja o motivo desse engajamento, ninguém aguenta dar tudo de si o tempo inteiro. Dessa forma, esse engajamento vai sendo sucedido por uma desistência”, diz Renata Paparelli, psicóloga.
GESTÃO DE TEMPO
Saber organizar tarefas pode ser um passo importante para uma produtividade mais saudável. A recomendação dos especialistas é começar o dia definindo tarefas, prazos de dentrega, relevância e o tempo necessário para que elas sejam concluídas.
Existem até técnicas para esse processo, como o Smart. “É uma forma de fazer as tarefas a partir da importância delas”, indica Clarissa. São cinco pontos principais: especifique o que precisa ser feito, mensure o progresso da tarefa, garanta que seja uma tarefa possível de ser realizada, tenha clara relevância dela e defina prazos.
Além disso, outra recomendação fundamental é saber equilibrar sua rotina entre trabalho e outras atividades, com prática de esportes, meditação e leitura. “A gente percebe baixos níveis de ansiedade e estresse em pessoas que investem um tempo no trabalho, mas também um tempo em outras atividades relevantes”, esclarece Clarissa.
SEPARE O PESSOAL DO PROFISSIONAL
Com a pandemia, vida pessoal e profissional se misturaram. O trabalho remoto – ou home office – tornou a separação entre esses dois universos um desafio. E a tendência é que esse modelo continue. Uma pesquisa da Fundação Instituto de Administração (FIA) mostrou que 29% das empresas planejam manter o trabalho remoto para pelo menos 50% do quadro ou até todos os funcionários.
“A falta de equilíbrio entre as demandas da vida pessoal e da vida profissional pode ter duas consequências principais: em um cenário, a pessoa pode ficar esgotada, estressada e acabar desenvolvendo um burnout; em outro, a pessoa desenvolve uma dependência do trabalho e começa a trabalhar compulsivamente”, afirma Clarissa.
Ter objetos que nos remetem ao trabalho, como uma xícara de café, pode ser uma estratégia útil para que seu cérebro entenda onde começa a vida pessoal e termina o trabalho. “O ideal para separar atividades profissionais das pessoais é aplicar estratégias comportamentais em que as diferenças fiquem fáceis de perceber”, observa Clarissa, que também recomenda ter uma mesa só para rabalho e trocar o pijama por outras roupas.
No entanto, Renata acredita que outras ações precisam ser tomadas. “É necessário que a legislação alcance essa nova configuração de trabalho”, defende a psicóloga. Ela propõe que as empresas forneçam um celular corporativo e evitem mensagens fora do horário de trabalho.
METAS CONVERSADAS
Com o objetivo de motivar os colaboradores, muitas empresas adotam o sistema de metas. Porém, em muitos casos, essa prática tem um efeito negativo na saúde mental e bem estar dos funcionários – seja pela sobrecarga de atividades ou por adotar longas jornadas de trabalho.
O que o trabalhador pode fazer para lidar melhor com a cobrança por resultados, de acordo com a psicóloga Renata, é “tentar não equiparar seu valor pessoal ao fato de atingir metas”. Por isso, a recomendação dos especialistas é que essas metas sejam definidas em acordo entre colaboradores e a liderança. “As pessoas não têm problema em ter metas e responsabilidade. Elas têm problemas em não ter autonomia para definir a forma de atingir esses resultados. O ponto não é ter ou não ter metas, mas como elas são negociadas”, explica Paul.
UMA BOA NOITE DE SONO
Dormir bem é importante por várias razões – mas, após uma rotina estressante, isso é indispensável. Isso porque, após uma situação que cause algum tipo de prejuízo, é necessário ter tempo e oportunidade para se recuperar do desgaste sofrido. “Ter um sono não reparador abre espaço para outras fragilidades e para um maior nível de esgotamento”, afirma Renata.
“Isso é o que a gente chama de espiral de perda”, completa Clarissa, para quem um sono não restaurador pode desencadear problemas como ansiedade e baixo rendimento no trabalho. Por isso, os especialistas recomendam algumas atividades para melhorar a qualidade do sono, como encaixar a prática meditativa e de exercícios físicos em algum momento do seu dia.
PEÇA AJUDA
É possível encontrar suporte no SUS. Procure a UBS mais próxima da casa e fale sobre os sintomas. Você também pode procurar um médico ou psicólogo ou um serviço especializado.
Fonte: Estado de São Paulo